Resumo de Artigo de Dora Incontri (2015)
A Universidade Livre Pampédia
esteve representada no I Encontro de Cultura e Pesquisa Espírita realizado na
UERJ. “Pesquisadores brasileiros e
franceses, espíritas e não-espíritas falaram sobre o Espiritismo sob diversas
perspectivas. O evento, entre outros,
contou com o apoio do Proeper (Programa de Estudos e Pesquisas das Religiões),
[...] com a Liga de Pesquisadores do
Espiritismo, [...] e com o Instituto Lachâtre, [...].”
“A mim coube o tema Espiritismo e Universidade: um diálogo possível, de
que pretendo aqui dar algumas pinceladas, porque a Universidade Livre Pampédia
marca uma posição bem definida a respeito. [...] O que Kardec fez foi 1)
Pesquisar os fenômenos mediúnicos; 2) Elaborar uma teoria explicativa para
esses fenômenos (testando várias hipóteses); 3) Formular uma filosofia a partir
das evidências empíricas da mediunidade e 4) Derivar uma proposta ética a
partir da ciência e da filosofia espíritas. E com isso, ele inaugurou uma forma
de espiritualidade (ou religiosidade) livre, não formal, não institucional.
Mas… chegando ao Brasil, [...]
o Espiritismo se tornou uma religião, que hoje, pela sua extensão e
representatividade, é um fenômeno sociológico, que atrai pesquisadores
não-espíritas brasileiros e internacionais.”
“Desde o início, porém, houve intelectuais espíritas brasileiros que,
aceitando ou não, o lado religioso do Espiritismo, alertaram que a proposta de
Kardec era muito mais voltada para a pesquisa, para a elaboração racional e, se
religiosa, teria de ser entendida como algo livre de instituições e
intermediações, desligada de dogmas e atavismos das religiões tradicionais.”
“Ocorre que, nas últimas décadas, cada vez mais, os espíritas estão
chegando às Universidades e percorrendo caminhos de mestrado, doutorado e
pesquisa e então, pelo acento excessivamente religioso (leia-se dogmático) de
sua origem espírita, se dividem em dois caminhos: ou se tornam materialistas,
assumindo plenamente as ideologias propostas pela academia, ou dão voz à
pesquisa espírita, mas relendo o Espiritismo, de uma perspectiva mais
científica e filosófica e, com isso, se aproximando mais de Kardec.”
Um exemplo disto é meu Roger
Bradbury, que fiz mestrado na Universidade Metodista de São Paulo, concluído e
2015.
“O diálogo entre Universidade e Espiritismo tem crescido
consideravelmente desde a década de 90, quando Cleusa Beraldi Colombo (por
acaso minha mãe), defendeu na PUC, uma das primeiras dissertações de mestrado
sobre o tema no Brasil, que depois foi publicada como Ideias Sociais Espíritas.
Evidência desse crescimento é que só na rede de professores da Associação
Brasileira de Pedagogia Espírita, há mais de 10 mestres e doutores, com
pesquisas acadêmicas relacionadas com o Espiritismo.”
“Mas que formas tomam esse diálogo no Brasil e internacionalmente?
Abaixo, estão alguns exemplos, longe de rastrear todas as formas de pesquisa
que envolvem o Espiritismo ou temas afins.
1) Pesquisa histórica, sociológica e antropológica (com olhar de fora).
Exemplos são as pesquisadoras já mencionadas Marion Aubrée, Sandra Jacqueline
Stoll e podemos citar outros, como Bernardo Lewgoy e David Hess. Para os
espíritas, essas pesquisas são ao mesmo tempo incômodas e enriquecedoras.
Incômodas, porque é sempre estranho quando nos tornamos objeto de pesquisa,
ainda que haja empatia do pesquisador. Enriquecedoras, porque esse olhar pode
dizer coisas de nós, que não percebemos com nosso olhar viciado, de dentro.
2) Espíritas pesquisando seu objeto, dando voz às ideias sociais,
filosóficas, pedagógicas com influência do Espiritismo. Isso só é possível e
ético, se o assumir a voz espírita num discurso acadêmico não se faz de maneira
proselitista, dogmática, mas com integridade intelectual e critério científico.
Assim como há pesquisadores marxistas, tomistas, freudianos, lacanianos, etc,
nada impede que haja pesquisadores espíritas (a não ser o patrulhamento
ideológico). Nesse caso, enumero alguns trabalhos acadêmicos, todos publicados
pela Editora Comenius: o já citado Ideias Sociais Espíritas; minha própria tese
de doutorado na USP, Pedagogia Espírita: um projeto brasileiro e suas raízes; a
pesquisa de mestrado Eurípedes Barsanulfo, um educador de vanguarda na Primeira
República, de Alessandro Cesar Bigheto na Unicamp; Anália, a educadora e seu
tempo, um livro que reúne duas dissertações de mestrado, uma de Eliane de
Christo (USF) e outra de Samantha Lodi (Unicamp); e os três livros de André
Andrade Pereira, desdobramento de uma só tese de doutorado da Universidade
Federal de Juiz de Fora, Espiritismo e Religiões, Espiritismo e Budismo e
Espiritismo e Globalização.
3) Pesquisas, cujo objeto são os fenômenos ligados ao Espiritismo
(reencarnação, mediunidade, experiências quase-morte, etc.), que podem ser
feitas por pesquisadores de origem espírita ou não, brasileiros e
internacionais. Exemplos são as pesquisas de memórias espontâneas de crianças
de suas supostas vidas passadas. Iniciadas há 50 anos por Ian Stevenson, na
Universidade de Virginia e apoiadas e depois continuadas por Erlendur
Haraldson, Antonia Mills, Jim Tucker e, no Brasil, por Hernani Guimarães de
Andrade, atingiram a marca de 2.500 casos, que fornecem evidências fortes da
reencarnação. Outro exemplo é a brilhante pesquisa sobre mediunidade, realizada
por Julio Peres, Alexander Moreira-Almeida e Andrew Newberg (esse da
Universidade d Pennsylvania) com dez médiuns psicógrafos, onde seus cérebros [...]
foram escaneados, enquanto ocorria o fenômeno da psicografia e, depois,
enquanto era redigido um texto autoral.
4) Espaços livres de pesquisa e debate no próprio movimento espírita
brasileiro. Exemplos são a Associação Médico-Espírita, A Liga de Pesquisadores
Espíritas, A Associação Jurídico-Espírita e a nossa Associação Brasileira de
Pedagogia Espírita.
A Associação Brasileira de Pedagogia Espírita, como o leitor
provavelmente já sabe, tem há 10 anos um curso de pós-graduação em Pedagogia
Espírita, com professores mestres e doutores; realizou 5 Congressos Brasileiros
de Pedagogia Espírita e 2 Congressos Internacionais de Educação e
Espiritualidade, todos com caráter científico, reunindo especialistas em várias
áreas, com publicação de Anais, livros com artigos dos convidados nacionais e
internacionais. Em todos os cursos, eventos, livros e propostas, sempre
propusemos a produção de conhecimento em diálogo inter-religioso, plural,
respeitando a diversidade e jamais promovendo catequese ou doutrinação.”
Disponível em:
https://bloguniversidadelivrepampedia.com/2015/08/06/espiritismo-e-universidade-livre-pampedia-que-dialogo-e-esse/