sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

“Espiritismo e Universidade (Livre Pampédia): que diálogo é esse?”

Resumo de Artigo de Dora Incontri (2015)

A Universidade Livre Pampédia esteve representada no I Encontro de Cultura e Pesquisa Espírita realizado na UERJ. “Pesquisadores brasileiros e franceses, espíritas e não-espíritas falaram sobre o Espiritismo sob diversas perspectivas. O evento, entre outros,  contou com o apoio do Proeper (Programa de Estudos e Pesquisas das Religiões), [...] com a Liga de Pesquisadores do Espiritismo, [...]  e com o Instituto Lachâtre, [...].”
A mim coube o tema Espiritismo e Universidade: um diálogo possível, de que pretendo aqui dar algumas pinceladas, porque a Universidade Livre Pampédia marca uma posição bem definida a respeito. [...] O que Kardec fez foi 1) Pesquisar os fenômenos mediúnicos; 2) Elaborar uma teoria explicativa para esses fenômenos (testando várias hipóteses); 3) Formular uma filosofia a partir das evidências empíricas da mediunidade e 4) Derivar uma proposta ética a partir da ciência e da filosofia espíritas. E com isso, ele inaugurou uma forma de espiritualidade (ou religiosidade) livre, não formal, não institucional.
Mas… chegando ao Brasil, [...] o Espiritismo se tornou uma religião, que hoje, pela sua extensão e representatividade, é um fenômeno sociológico, que atrai pesquisadores não-espíritas brasileiros e internacionais.
Desde o início, porém, houve intelectuais espíritas brasileiros que, aceitando ou não, o lado religioso do Espiritismo, alertaram que a proposta de Kardec era muito mais voltada para a pesquisa, para a elaboração racional e, se religiosa, teria de ser entendida como algo livre de instituições e intermediações, desligada de dogmas e atavismos das religiões tradicionais.”
Ocorre que, nas últimas décadas, cada vez mais, os espíritas estão chegando às Universidades e percorrendo caminhos de mestrado, doutorado e pesquisa e então, pelo acento excessivamente religioso (leia-se dogmático) de sua origem espírita, se dividem em dois caminhos: ou se tornam materialistas, assumindo plenamente as ideologias propostas pela academia, ou dão voz à pesquisa espírita, mas relendo o Espiritismo, de uma perspectiva mais científica e filosófica e, com isso, se aproximando mais de Kardec.”
Um exemplo disto é meu Roger Bradbury, que fiz mestrado na Universidade Metodista de São Paulo, concluído e 2015.
O diálogo entre Universidade e Espiritismo tem crescido consideravelmente desde a década de 90, quando Cleusa Beraldi Colombo (por acaso minha mãe), defendeu na PUC, uma das primeiras dissertações de mestrado sobre o tema no Brasil, que depois foi publicada como Ideias Sociais Espíritas. Evidência desse crescimento é que só na rede de professores da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita, há mais de 10 mestres e doutores, com pesquisas acadêmicas relacionadas com o Espiritismo.”
Mas que formas tomam esse diálogo no Brasil e internacionalmente? Abaixo, estão alguns exemplos, longe de rastrear todas as formas de pesquisa que envolvem o Espiritismo ou temas afins.
1) Pesquisa histórica, sociológica e antropológica (com olhar de fora). Exemplos são as pesquisadoras já mencionadas Marion Aubrée, Sandra Jacqueline Stoll e podemos citar outros, como Bernardo Lewgoy e David Hess. Para os espíritas, essas pesquisas são ao mesmo tempo incômodas e enriquecedoras. Incômodas, porque é sempre estranho quando nos tornamos objeto de pesquisa, ainda que haja empatia do pesquisador. Enriquecedoras, porque esse olhar pode dizer coisas de nós, que não percebemos com nosso olhar viciado, de dentro.
2) Espíritas pesquisando seu objeto, dando voz às ideias sociais, filosóficas, pedagógicas com influência do Espiritismo. Isso só é possível e ético, se o assumir a voz espírita num discurso acadêmico não se faz de maneira proselitista, dogmática, mas com integridade intelectual e critério científico. Assim como há pesquisadores marxistas, tomistas, freudianos, lacanianos, etc, nada impede que haja pesquisadores espíritas (a não ser o patrulhamento ideológico). Nesse caso, enumero alguns trabalhos acadêmicos, todos publicados pela Editora Comenius: o já citado Ideias Sociais Espíritas; minha própria tese de doutorado na USP, Pedagogia Espírita: um projeto brasileiro e suas raízes; a pesquisa de mestrado Eurípedes Barsanulfo, um educador de vanguarda na Primeira República, de Alessandro Cesar Bigheto na Unicamp; Anália, a educadora e seu tempo, um livro que reúne duas dissertações de mestrado, uma de Eliane de Christo (USF) e outra de Samantha Lodi (Unicamp); e os três livros de André Andrade Pereira, desdobramento de uma só tese de doutorado da Universidade Federal de Juiz de Fora, Espiritismo e Religiões, Espiritismo e Budismo e Espiritismo e Globalização.
3) Pesquisas, cujo objeto são os fenômenos ligados ao Espiritismo (reencarnação, mediunidade, experiências quase-morte, etc.), que podem ser feitas por pesquisadores de origem espírita ou não, brasileiros e internacionais. Exemplos são as pesquisas de memórias espontâneas de crianças de suas supostas vidas passadas. Iniciadas há 50 anos por Ian Stevenson, na Universidade de Virginia e apoiadas e depois continuadas por Erlendur Haraldson, Antonia Mills, Jim Tucker e, no Brasil, por Hernani Guimarães de Andrade, atingiram a marca de 2.500 casos, que fornecem evidências fortes da reencarnação. Outro exemplo é a brilhante pesquisa sobre mediunidade, realizada por Julio Peres, Alexander Moreira-Almeida e Andrew Newberg (esse da Universidade d Pennsylvania) com dez médiuns psicógrafos, onde seus cérebros [...] foram escaneados, enquanto ocorria o fenômeno da psicografia e, depois, enquanto era redigido um texto autoral.
4) Espaços livres de pesquisa e debate no próprio movimento espírita brasileiro. Exemplos são a Associação Médico-Espírita, A Liga de Pesquisadores Espíritas, A Associação Jurídico-Espírita e a nossa Associação Brasileira de Pedagogia Espírita.
A Associação Brasileira de Pedagogia Espírita, como o leitor provavelmente já sabe, tem há 10 anos um curso de pós-graduação em Pedagogia Espírita, com professores mestres e doutores; realizou 5 Congressos Brasileiros de Pedagogia Espírita e 2 Congressos Internacionais de Educação e Espiritualidade, todos com caráter científico, reunindo especialistas em várias áreas, com publicação de Anais, livros com artigos dos convidados nacionais e internacionais. Em todos os cursos, eventos, livros e propostas, sempre propusemos a produção de conhecimento em diálogo inter-religioso, plural, respeitando a diversidade e jamais promovendo catequese ou doutrinação.

Disponível em: https://bloguniversidadelivrepampedia.com/2015/08/06/espiritismo-e-universidade-livre-pampedia-que-dialogo-e-esse/

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